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Melâmbula, a misteriosa mulher melancia

Você vai querer saber o que está por trás
desta misteriosa mulher andarilha. Dizem
que a Melâmbula, como é chamada, esconde
uma profecia que pode ser revelada por uma
mensagem encontrada dentro de uma garrafa.

Leia aqui mesmo. Selecione um capítulo e divirta-se!

Capítulo 1

As sementes na cabeleira

Você sabe como uma plantinha nasce?

Já colocou um grãozinho de feijão dentro de um potinho com algodão molhado para ver o que acontece depois de um tempo?

O feijão que nós comemos é a sementinha do pé de feijão. A água faz a sementinha germinar, e, se você mantiver o algodão molhadinho, em alguns dias sai de dentro da semente uma perninha que chamamos de caule, que vai procurar luz para crescer. Depois, vão nascer as folhas, e,  se você plantar a mudinha na terra e cuidar, depois das folhas vai nascer uma bolsinha que chamamos de vagem, e dentro da vagem, nascem  novas sementinhas, novos grãozinhos de feijão.

Depois de ouvir esta estória, você pode fazer esta experiência, fazer surgir de uma semente uma plantinha. A Florinda e a Florisbela adoram mágicas. Esta é uma das mágicas da natureza.

Você já sabe por que eu estou explicando que de uma sementinha pode nascer uma planta? Já sabe por que é que a Melâmbula é a misteriosa mulher melancia?

Este é um segredo que algumas crianças já sabem, mas a maioria dos adultos não acredita. Preste bastante atenção no que vou contar, se algum adulto não entender você vai saber explicar o que aconteceu com a Melâmbula e talvez os adultos comecem a acreditar.

A Florinda e a Florisbela moram na praia do Cassino. A cidade é pequena, quase todo mundo se conhece, então elas podem ir e voltar da escola, sozinhas.

A aula das meninas começa bem cedo, às 7h25min e termina às 12h35min. Quando a aula termina elas estão morrendo de fome. Algumas vezes elas passam pela fruteira para ver se o Toni Carambola, dono da fruteira, tem alguma fruta madura para elas irem comendo pelo caminho, enquanto voltam para casa.

E foi depois de uma visita à fruteira do Toni Carambola que a incrível estória da Melâmbula começou.

As irmãs gêmeas passaram pela frente da fruteira depois da aula e resolveram entrar pra ver se o Toni tinha alguma fruta docinha para elas. O Toni disse:

– Meninas, hoje vocês estão com sorte! Eu guardei uma melancia bem doce na geladeira, vocês vão adorar, vou cortar um bom pedaço pra vocês. Agora, se vocês forem comendo pelo caminho, eu vou dar um saquinho para vocês colocarem as sementes. Nenhum tipo de lixo deve ser atirado por aí, nem mesmo cascas de frutas ou sementes, certo?

A Florisbela prontamente respondeu para o Toni Carambola:

– Toni, não se preocupe, nós já sabemos. A Tia Cândida esta sempre lembrando que não podemos jogar nosso lixo por aí. Eu também tenho uma sacolinha extra aqui na minha mochila.

Mas a Florinda, sem falar nada, pensou:

– Ai que saco, uma sementinha de nada, quando a Florisbela não estiver olhando eu vou cuspir as sementes nos canteiros.

Elas pegaram seus pedaços de melancia, agradeceram ao Toni Carambola e saíram da fruteira cantarolando e comendo as deliciosas fatias de melancia, que estavam doces e geladinhas.

Quando a Florisbela estava olhando, a Florinda cuspia os caroços no saquinho, mas quando a Florinda percebia que a Florisbela estava desatenta, ela cuspia os caroços nos canteiros. A melancia é uma fruta que tem muitas sementes. Enquanto esperava para ver se a Florisbela olhava para o lado, a Florinda deixava os caroços na bochecha, depois dava uma cusparada só.

Quando elas estavam passando pela padaria, a Florinda avistou um murinho, atrás dele, notou uns pedaços de papelão e alguns entulhos. Enquanto a Florisbela cumprimentava a Dona Severina, a Florinda resolveu aproveitar para se livrar das  sementes e antes de perceber que tinha uma pessoa deitada no meio dos entulhos, tascou uma cusparada. No mesmo instante, levantou-se uma cabeça de gente com uma imensa cabeleira, muito suja, descabelada e espessa. Agora, adivinhem aonde foram parar as sementes que a Florinda cuspiu? Uma moradora de rua se abrigava no meio dos entulhos, e a Florinda acabou cuspindo todas as sementes no meio da cabeleira dela.

Era tanto cabelo e estava tão emaranhado, todo embaraçado, que a moradora de rua nem sentiu que eram sementes e que elas tinham ficado presas no meio da sua  cabeleira. Pensou que a Florinda era mais uma criança implicando com ela, e lascou um grito rouco:

– Some daqui, some daqui, criança “malinducada”, some daqui, ou eu vou atrás de ti! Eu odeio crianças! Eu odeio crianças, some daqui ou eu vou atrás de ti!

A Florinda, apavorada, deu um pulo para trás, escorregou na calçada, quando ia cair no chão a Florisbela, que já estava chegando, segurou a irmã e perguntou:

– Florinda!  Não estou acreditando! Você estava implicando com a moradora de rua?

Florinda, ainda assustada e com medo de confessar que tinha cuspido as sementes na cabeça daquela senhora tão pobre, sozinha e desarrumada, mentiu para  a  irmã, dizendo:

– Florisbela, eu só estava passando, aquela mulher maluca que deu um grito pra me assustar e saiu gritando que odeia crianças e que vinha me pegar, ainda bem que você chegou!  Eu não fiz nada, não fiz nada!

A Florisbela, que conhece bem a irmã, não acreditou muito que ela não tivesse feito nada. Mas achou melhor deixar este assunto pra depois, elas já estavam demorando muito e a Tia Cândida já devia estar preocupada esperando por elas, em casa.

Capítulo 2

O segredo da Florinda

Quando dobraram a esquina da quadra onde moram, viram que a Tia Cândida estava esperando por elas na calçada, preocupada. Quando  as avistou, veio rápido na direção delas, perguntando por que demoraram tanto a chegar. Elas explicaram que passaram na fruteira do Toni Carambola e demoraram um pouquinho, mas sobre o episódio com a moradora de rua não falaram nada.

Enquanto a Florinda e a Florisbela seguiam sua rotina em casa, a algumas quadras dali, no meio da cabeleira da moradora de rua, uma fantástica transformação estava começando. A mágica da natureza. Adivinhem! Isso mesmo, as sementes começaram a germinar no meio da cabeleira da mulher! Estava começando a misteriosa e quase inacreditável transformação da mulher melancia! E agora vocês vão entender melhor como tudo isso ocorreu.

Depois de gritar com a Florinda, sem perceber as sementes no meio da cabeleira, a moradora de rua se recolheu no meio dos entulhos e pegou no sono. Nesse momento começou uma chuva fraquinha no Cassino.

Algumas horas se passaram, e ela foi acordada pelo barulho da chuva que começava a cair mais forte, fazendo poças  d’água onde ela estava deitada. A moradora de rua achou melhor juntar suas coisas e sair dali. Saiu caminhando por aí, jᠠque não tinha um lugar certo para abrigar-se. Os pingos de chuva começaram a penetrar na enorme cabeleira, e a sujeira toda era como se fosse terra. Quando colocamos uma semente na terra e depois molhamos, a sementinha começa a germinar, assim como aconteceu com o grão de feijão que colocamos no potinho em cima do algodão molhado. A água faz nascerem as perninhas que saem procurando por luz. Com as sementes de melancia presas naquela cabeleira enorme e umedecida pela chuva, aconteceu isso. As sementinhas molharam e delas acabaram saindo essas perninhas que depois viram o caule, e já começaram a se enredar na cabeleira grande e grossa de sujeira.

Várias sementes brotaram ao mesmo tempo e muito rapidamente. A mulher, que não tinha onde tomar banho, já estava acostumada com os piolhos que pegava nos lugares onde dormia, achou que aquela coceira era normal, e, como não tinha espelho, não percebeu o que estava acontecendo. Os brotos viraram caules, que foram se emaranhando cada vez mais no meio daquele cabelo grosso e espesso, e foram se fixando de um jeito que parecia que os caules eram o próprio cabelo dela.

Mas, enquanto isso, sem saber que aquela transformação com a pobre mulher de rua estava acontecendo, a Florinda seguia sua vidinha normalmente. Almoçou, fez os temas, foi para o

videogame e ali ficou até o meio da tarde. A Florisbela preferiu ir para a praia surfar. O tempo estava ruim, mas a Florisbela tem roupa de neoprene, especial para não sentir frio na água.

No meio do pátio, no condomínio onde moram a Florinda e a Florisbela, tem um trampolim de três andares. No topo, bem alto, uma espécie de mirante, de lá é possível ver toda a cidade e avistar o mar. A Florinda, impaciente e  ansiosa, foi lá em cima do mirante com o binóculo para ver se podia avistar a Florisbela surfando. Já estava cansada de jogar videogame.  Mas o tempo estava nublado e chuviscando e ela não conseguiu ver nada na praia. Então ela olhou para o lado da cidade, e quando avistou o teto da padaria, lembrou que tinha dado a cusparada naquela mulher e ficou com peso na consciência, com um mal estar por ter feito uma coisa errada. Ela se deu conta que devia ter feito a coisa certa desde o início, colocar as sementes no saquinho ao invés de sair cuspindo por ai. Desceu do mirante e voltou para o videogame, para tentar esquecer.

No finalzinho da tarde, a Florisbela voltou do surf cansada e morrendo de fome. Desceu pelas dunas, o muro natural entre a praia e o condomínio onde moram.  Mal pisou no gramado, seu gatinho Zartog soltou um miado mostrando que estava feliz com a sua chegada. Ela pegou o gatinho no colo e viu que ele estava todo sujo de lama. Isso fez com que ela se lembrasse da moradora de rua e da briga que a Florinda teve com ela. Ao entrar em casa, olhou para a Florinda que estava sentada na sua frente, ainda jogando videogame e pediu:

– Mana, vem comigo na cozinha. Vamos fazer um lanchinho, enquanto você me conta a verdade sobre o que aconteceu com a moradora de rua, lá na padaria.

A Florinda, tentando desconversar, respondeu:

– Ai, Bela, eu tô quase terminando esta fase do jogo e não tô com fome…

Mas a Florisbela insistiu:

– Florinda, somos irmãs gêmeas, esqueceu? Eu tô sentindo que você está estranha, tem alguma coisa errada, vem logo e trata de me contar o que foi que aconteceu!

Capítulo 3

Uma noite no museu oceanográfico

A Florinda, toda sem jeito, começou a contar:

– Ai, Florisbela, tá bem, eu vou te contar. Eu sempre tenho preguiça de juntar as sementes no saquinho e… eu vinha pelo caminho cuspindo as sementes no canteiro quando você não estava vendo. Então quando chegamos na padaria eu vi uma montoeira de lixo do lado do murinho, e resolvi cuspir as sementes que estavam na minha boca ali em cima. Só que eu não percebi que aquela moradora de rua estava ali, e sem querer cuspi todas as sementes de melancia no meio da cabeleira dela. Mas ela nem percebeu que eu cuspi as sementes nela, seu cabelo estava tão emaranhado e tão sujo e grosso que não notou, pensou que eu estava só implicando. Pronto, contei. Mas você vai contar isso pra Tia Cândida? Por favor, não conta nada!

– Ai, Florinda! Você está cansada de saber que não se joga nem sementes pela rua, que tudo tem que ser colocado no lixo! E ainda deu uma cusparada naquela pobre coitada. Mas vamos fazer um trato, se você jurar que nunca mais vai atirar lixo por aí, eu também prometo que não conto para a Tia Cândida. E, amanhã, nós encontraremos a mulher de rua e você pede desculpas para ela. Combinado?

– Ahhhh Florisbela…, a Florinda resmungou, e depois continuou: pedir desculpas para aquela mulher também é demais… Ela parecia uma doida dizendo que odiava crianças, eu tenho medo!

– Florinda, você cuspiu nela, mesmo sem querer!  Tem que pedir desculpas! E, afinal, você tem medo do que ela pode fazer contra nós duas?

– Mas, Florisbela, ela nem percebeu. Por que é que vou me desculpar por uma coisa que ela nem sabe que eu fiz?

Florisbela levantou um pouco a voz e disse:

– Ela pode não saber, mas você sabe e tem que se desculpar. Começou mal, mas cabe a você terminar isso bem. Se a Tia Cândida deixar, podemos dar aquelas roupas antigas que estão no baú do galpão para ela.

Elas terminaram de fazer o lanche em silêncio. A Florinda lavou a louça que usaram e a Florisbela secou, guardaram tudo e foram brincar no pátio. Quando a Tia Cândida chegou do trabalho, elas nem lembravam mais da história da cusparada. Jantaram, deram comida para os bichos, fecharam o galpão, voltaram para dentro de casa e subiram para tomar banho. Depois vestiram seus pijamas e foram para o computador ver se algum amigo tinha enviado mensagem  e para conversar on-line. Bateram papo com a Isabella, que mora em Porto Alegre, e às 21h15min a Tia Cândida levou as duas para a cama e como de costume, contou-lhes estórias antes que dormissem. Às 21h40min elas já estavam dormindo, para acordarem no dia seguinte bem dispostas para a aula.

No dia seguinte, às 06h30min, ainda estava escuro lá fora, e, de repente, começa a tocar uma música: – Avião sem asa, fogueira sem brasa, sou eu assim sem você… O despertador da Florinda e da Florisbela toca a música preferida delas, “Fico assim sem você”. O Sonic, a calopsita da Florinda, entra no quarto e voa direto para cima da janela, fazendo a maior bagunça. Assim elas despertam todos os dias.

A Florisbela salta da cama e vai correndo abrir a janela pra ver se está chovendo. Ela não gosta quando chove, por que não pode brincar na rua. Estão surgindo os primeiros raios de sol no horizonte e ela consegue ver que não tem nuvens no céu, ou seja, vai ser um lindo dia de céu azul. Fica feliz, e já começa a se vestir. Enquanto isso a Florinda vai para o banheiro e começa toda a sua arrumação. A Florisbela só usa óculos de sol e protetor solar, mas a Florinda demora um tempão se arrumando. Ela penteia, demoradamente, seus cabelos pretos, escolhe os brincos, experimenta varias tiaras e fitas de cabelo antes de escolher a que vai usar, passa perfume, brilho nos lábios, e, depois disso, todos os dias ela reclama:

– Que raiva ter que usar uniforme para ir pra aula!

A Florisbela, enquanto a Florinda está se arrumando, já se vestiu há um bom tempo e já está lá embaixo na cozinha, tomando café. A Florinda sempre desce em cima da hora, a Florisbela precisa chamar várias vezes ou elas se atrasam e quase sempre a Florinda sai correndo sem comer nada.

Antes de sair, elas passam no quarto da Tia Cândida para se despedir, e, por volta de 7h05min, elas estão saindo de casa para chegarem a tempo, antes de começar a aula, às 7h25min.

Lá se foram elas para mais um dia de aula…

Saíram de casa felizes e animadas, mas quando avistaram a padaria, a Florinda imediatamente ficou triste. Tinha esquecido da mulher de rua, e lembrou que prometera para Florisbela que iria encontrar a mulher e desculpar-se. Quando passaram pela padaria, viram que do lado do murinho já estava tudo limpo, e a Florinda ficou na esperança de que a mulher de rua tivesse ido embora para sempre. Mas a Florisbela disse que à tarde elas aproveitariam que o tempo estava bom e  iriam sair pelo bairro para tentar encontrar a mulher de rua, levar umas roupas que já não usavam mais para ajudá-la, e a Florinda pediria desculpas.

Caminharam mais duas quadras, passaram pela fruteira do Toni Carambola, que estava colocando caixas com frutas na calçada, deram bom dia para ele, e, às 7h20min chegaram à Escola, quinze minutos depois de terem saído de casa. Deu tempo de conversar um pouquinho com os colegas antes de começarem as aulas, e foram felizes para o pátio da escola, pois a primeira aula seria de educação física e elas iriam jogar vôlei, que a Florinda e a Florisbela adoram.

O professor, antes de começar o jogo, fez um aquecimento. Depois orientou alguns exercícios de toque, manchete e saque, pois, no final do mês, o time da escola iria disputar o campeonato interescolar, em Rio Grande.  Organizaram os times, a Florinda jogou de um lado e a Florisbela do outro. O que aconteceu neste jogo vamos contar numa outra estória, a Estória do Campeonato Interescolar de Rio Grande. Hoje estamos contando a fantástica, misteriosa e quase inacreditável transformação da moradora de rua, a Melâmbula, a mulher melancia. Então, vamos continuar contando o que estava acontecendo com ela enquanto a Florinda e a Florisbela estão na escola.

Se vocês ainda estão lembrados, no dia anterior, começou a chover e a Melâmbula, ainda sem perceber o que estava acontecendo na sua cabeça, saiu caminhando pela rua sem destino. A chuva começou a ficar mais forte. O Seu Genuíno Carreto, um senhor que trabalha com uma carroça juntado lixo seco e material para reciclar, vinha passando e ofereceu a ela uma carona.

Como não tinha para onde ir, ela achou melhor aceitar. Foram pela beira da praia até os molhes da barra, e, de lá, pela estrada que liga a praia até o porto. No finalzinho da tarde chegaram ao centro da cidade. Seu Genuíno deixou a Melâmbula na esquina da praça Tamandaré, próxima do porto. Nesta praça existe um lago com gansos, cisnes, patos e um minizoológico. Mas o que há de mais legal na praça são os brinquedos, como um vagão ferroviário, um avião, balanços, escorregador e muitos outros.

As crianças simplesmente adoram a Praça Tamandaré. Sem saber que iria encontrar muitas crianças por lá, pois são os adultos que costumam frequentar a praça, àquela hora, a Melâmbula, achando que num lugar movimentado seria mais fácil conseguir comida, entrou no local. Tudo que ela não queria era encontrar dezenas de crianças correndo por todos os lados. Quando deu por si, estava no meio do parquinho infantil. Com uma enorme dor de cabeça, o barulho e a correria das crianças ao seu redor, teve um piripaque. Ainda se lembrou da briga com a Florinda no dia anterior e ficou com mais raiva das crianças. Saiu fazendo um barulho estranho com a boca e gritando do meio da praça:

– Inhaque, nhaque, inhaque,  crianças ! Odeio crianças, odeio crianças! Inhaque, inhaque! E foi embora dali.

Caminhou e caminhou, até ter certeza que estava bem longe da praça. Já estava anoitecendo, e ela ainda não tinha encontrado nenhum lugar para se abrigar. Chegou em frente a um museu que tinha uma piscina com um leão marinho na parte externa. O Museu Oceanográfico de Rio Grande. Já era tarde e os funcionários que trabalhavam ali já tinham ido embora. Ela conseguiu entrar no pátio abrindo um furo na cerca de arame. Já no pátio do museu, ela foi até o fundo do terreno, perto do laboratório de experimentos, e encontrou uma edícula, uma espécie de casa de máquinas que servia de proteção para uns equipamentos que estavam ligados, como se fossem motores. Ela não sabia o que eram, mas a edícula era protegida e os equipamentos ligados deixavam  o lugar aquecido. Ela se acomodou e passou a noite ali.

Capítulo 4

Aparência assustadora causa terror em Rio Grande

Durante a noite, enquanto a mulher dormia, os caules na cabeça dela começaram a virar tranças firmes. As folhas já estavam maiores, e nas pontas já surgiam alguns pontinhos, que eram na verdade frutinhos de melancia ainda pequenos. Logo eles estavam do tamanho de uma bolinha de tênis.

Uma plantinha normal demora mais tempo para crescer, mas alguma coisa estava fazendo com que a planta se desenvolvesse muito rápido na cabeleira da Melâmbula. A  transformação em mulher melancia estava ocorrendo de forma acelerada.

Quando a Melâmbula acordou, com a cabeça mais pesada, achou que estava passando mal e tentou dormir mais um pouco, mas o sol já estava despontando e ela lembrou que os funcionários do museu logo estariam chegando para trabalhar. Também estava com muita fome.  Achou melhor sair por ai, bater nas casas e pedir comida. As pessoas sempre costumavam ajudá-la, mas naquele dia tudo seria diferente. Sabem por quê? Ela já havia se transformado em Melâmbula, a mulher melancia!

Melâmbula saiu do pátio do museu pelo mesmo furo na cerca que havia usado para entrar, e, quando pisou na calçada, quase se desequilibrou. Ela ainda não tinha percebido o pé de melancia na sua cabeça, mas lá estava ele e os frutinhos que já haviam aparecido continuavam a crescer. Ela já carregava muito mais peso na cabeça do que estava acostumada.

Saiu caminhando pela calçada, em sua direção vinha um homem de bicicleta indo para o trabalho. Quando viu a Melâmbula, ele fez uma cara de pavor e pedalou como se estivesse fugindo de um monstro. Ela estranhou. Não era assim tão feia e não costumava, só de ser vista, provocar uma reação assim tão assustadora nas pessoas, apesar de estar sempre muito desarrumada. Mas seguiu caminhando. Dobrou a esquina e estava chegando no porto, onde as pessoas pegam a balsa para São José do Norte, quando neste momento duas pessoas que vinham no sentido contrário olharam para ela de frente e, imediatamente, saíram gritando apavoradas. Ela então entendeu que algo estava errado e achou melhor esconder-se. Teve muita sorte, avistou a carroça do Seu Genuíno Carreto estacionada quase do lado da agência portuária. A carroça estava carregada, e a Melâmbula então se escondeu no meio dos papéis recolhidos pelo Seu Genuíno para serem levados para a usina de reciclagem, na praia do Cassino. Ficou ali escondida tentando não se mexer, e fechou os olhos. Estava morrendo de fome, ela não comia nada desde o dia anterior.

Seu Genuíno Carreto, como fazia todos os dias, tomou seu café da manhã no Bolicho do Zé do Croquete, leu o jornal, pagou R$ 2,00 pelo café e pelo pão de queijo e R$ 1,00 por quatro torrões de açúcar mascavo, e despediu-se do Zé do Croquete.

Chegando na carroça, Seu Genuíno Carreto deu os torrões de açúcar mascavo para o Patatá, o seu cavalo e companheiro que traciona a carroça. Amarrou o Patatá com cuidado para não machucar, revisou as ferraduras nas patas, e vendo que estavam todas firmes,  saiu com a carroça, partindo para  a usina de reciclagem, sem saber que tinha uma passageira ali atrás, bem no meio da sua bagagem.

Seu Genuíno Carreto estava feliz da vida, e saiu cantarolando uma música que conhecia desde a infância:

“Ai, minhas costas, minha barriga, minha coluna,

esta vida é tão dura e eu não posso mais dançar.

Xô preguiça, vai embora, eu sou livre, sai fora, cantando vou trabalhar.

Vamos juntos, companheiro, mundo afora, alegria não vai faltar.”

A Melâmbula ia ouvindo a cantoria do Seu Genuíno Carreto e ficando ainda mais mal humorada. Escondida embaixo dos entulhos, com muita fome, toda torta, não entendia como alguém podia cantar feliz em cima de uma carroça. No caminho, Seu Genuíno parava, cumprimentava algumas pessoas, recolhia mais papéis que encontrava, e seguia sua jornada até chegar a usina de reciclagem na praia do Cassino.

Já era quase meio-dia quando a carroça chegou nos molhes. Seu Genuíno saltou da carroça para assar um peixe com seus amigos condutores de vagoneta. Subiu pelas pedras e encontrou seus amigos que já estavam improvisando uma churrasqueira para assar um Miraguaia, um peixe amarelado e grande que eles conseguiram pescar lá na ponta dos molhes.

A praia naquele horário estava completamente deserta. A Melâmbula pensou em pular fora da carroça ali mesmo, não aguentava mais de fome, poderia pedir alguma comida para os pescadores ou até mesmo para Seu Genuíno Carreto. Mas lembrou que alguma coisa nela estava assustando muito as pessoas, então achou melhor ir escondida na carroça até a usina de reciclagem e esconder-se por lá até descobrir o que estava acontecendo com ela.

Para conseguir enxergar por debaixo dos papéis, Melâmbula enrolou uma cartolina em formato de luneta e ajeitou-a no vão entre dois pedaços de madeira que formavam a lateral da carroça. Assim, conseguia ver o que acontecia do lado de fora. O dia estava claro, céu sem nuvens e o mar estava calmo, sem ondas.

Capítulo 5

Rastros da moradora de rua

Vamos retomar um pouquinho os fatos:

Segunda- feira depois da aula, a Florinda cuspiu as sementes na cabeça da Melâmbula e à tarde começou a chover. A Melâmbula, sem saber que tinha sementes na cabeça, foi de carona para Rio Grande na carroça do Seu Genuíno Carreto e dormiu na sala de máquinas do museu oceanográfico, enquanto a transformação para mulher melancia ia se completando. Na terça-feira pela manhã a Melâmbula acorda transformada em mulher melancia e se esconde na carroça do Seu Genuíno, que volta para o Cassino. A Florinda e a Florisbela estão na escola e já é quase meio-dia. Melâmbula segue escondida na carroça, eles estão indo para a usina de reciclagem. Agora vamos voltar para escola da Florinda e da Florisbela, para saber o que está acontecendo.

Na escola da Florinda e da Florisbela o recreio dura 30 minutos e é dividido em duas partes. Quinze minutos de brincadeiras no pátio e quinze minutos na sala da merenda. As crianças correm e brincam e depois fazem lanche, ficando mais tranquilas ao voltarem para a continuação das aulas. Naquele dia, o lanche  era um empadão com pêssegos em calda, que a Florinda adora, mas a Florisbela não comeu nada por que ela não gosta muito de doces, ela prefere comida salgada. Enquanto a Florinda comia, a Florisbela conversava com as amigas.

Logo que terminou o horário do lanche, elas voltaram para as aulas, dois períodos de Língua Portuguesa. Neste dia, elas teriam que fazer uma redação sobre o tema  “As coisas que eu mais gosto na praia do Cassino”. A Florisbela escreveu sobre o Navio Encalhado, o Altair; e a Florinda escreveu sobre o Barracão, uma feira de lojas que acontece no Cassino todos os verões na forma de praça de alimentação, e ela adora passear por lá com as amigas.

Finalmente terminaram as aulas do dia, e elas saíram da escola e rumaram para casa. Ao chegarem em frente à fruteira, como de costume o Toni mandou elas entrarem para pegar a fruta do dia, ele tinha separado duas bergamotas. Ele, novamente, lembrou que as cascas e caroços deviam ser colocados no saquinho. E, desta vez, a Florinda decidiu desde o início fazer a coisa certa, juntar as sementes e colocar no saquinho ao invés de atirá-las pela rua e canteiros.

Mal saíram da fruteira e a Florisbela já lembrou à Florinda que elas teriam que cumprir o combinado, que eram duas coisas:

Perguntar à Tia Cândida se ela tinha algumas roupas que elas pudessem doar para a moradora de rua.

Procurar a Melâmbula para dar as roupas e pedir desculpas.

Ao passar pela padaria, a Florinda perguntou para Dona Severina se ela sabia qual o paradeiro da mulher de rua que ontem estava ali, do lado do murinho. Mas a Dona Severina contou que no dia anterior tinham visto ela de carona com o Seu Genuíno Carreto, e era a única coisa que sabia.

Enquanto a Florinda conversava com a Dona Severina, a Florisbela resolveu procurar por alguma pista que ajudasse a encontrar a Melâmbula. Foi olhar do lado do murinho. Encontrou no chão, bem onde a Melâmbula estava na véspera, um par de luvas com as pontas dos dedos cortadas e teve uma ideia.

Nisso chega a Florinda, vindo de dentro da padaria, e, parecendo aliviada, conta para  a Florisbela que ninguém sabia o paradeiro da mulher de rua. A Florisbela então mostrou as luvas que tinha encontrado. E a Florinda perguntou:

– Tá, Florisbela, o que você quer fazer com essas luvas? E a Florisbela respondeu:

– Florinda, pensa… A luva, caso seja da mulher na qual você atirou as sementes, deve ter o cheiro dela na lã, concorda? Nós podemos pedir para a Keith nos emprestar o Thor. O Thor pode farejar o rastro e nos levar até onde ela está.

– É, é verdade! Respondeu Florinda.

Capítulo 6

O esconderijo na Usina de Reciclagem

O cachorro do Tatan se chama Thor, é da raça Cocker Spaniel, ele é cor de caramelo e tem longas orelhas que quase chegam a arrastar no chão; ele é todo faceiro, agitado e brincalhão e adora farejar. Aonde o Tatan vai, o Thor vai atrás.

As meninas chegaram em casa e almoçaram com a Tia Cândida, o prato era lasanha, a comida preferida da Florisbela. Durante o almoço, a Florisbela contou para Tia Cândida que no dia anterior elas tinham conhecido uma moradora de rua que estava do lado da padaria, e perguntou se elas poderiam ajudar dando pra ela algumas roupas usadas. A Tia Cândida disse que elas podiam dar as roupas que estavam guardadas no baú, que ficava no galpão. Sugeriu que elas pegassem dois sacolões na gaveta dos sacos de lixo para colocarem dentro as coisas que quisessem dar para a senhora de rua.

Terminaram de almoçar, ajudaram a tirar a mesa e a arrumar a cozinha e  foram fazer os temas. Como sempre a Florinda reclamou, depois fez de conta que já tinha terminado, deixou o tema pela metade e foi ver televisão. A Florisbela estava louca para ir brincar com Zartog, seu gatinho, pois estava um lindo dia de sol lá fora, mas achou melhor terminar tudo que tinha para fazer; depois ainda teria o resto da tarde livre e poderia aproveitar despreocupada. Muito esperta esta Florisbela, faz primeiro os deveres para depois ir brincar tranquila. Mas agora vamos voltar lá para a usina de reciclagem para saber o que está acontecendo com Seu Genuíno Carreto e com a Melâmbula escondida na carroça.

Lembram que o Seu Genuíno foi almoçar nos molhes com os amigos das vagonetas? Pois bem, fizeram o peixinho, estava delicioso, limparam tudo e cada um voltou para o seu trabalho. A Melâmbula espiava tudo com sua luneta de papelão, na verdade uma cartolina enrolada formando um tubo. Seu Genuíno subiu na carroça, estalou os lábios como se mandasse um beijo demorado para o seu cavalo Patatá, e seguiram viagem. A carroça foi pela beira da praia até chegar à estátua de Iemanjá. Seu Genuíno deu uma paradinha rápida para fazer reverência para a Santa, e seguiu pela Av. Rio Grande, a principal via da Praia do Cassino. No final da avenida fez o retorno e dobrou à direita, andou mais uns metros e já estavam na porta da usina de reciclagem. Com habilidade, Seu Genuíno deu uma guinada no Patatá, que fez meia volta e a traseira da carroça ficou de ré na entrada de um grande depósito cheio de fardos de papel, latinhas de refrigerante, garrafas pet e entulhos por todos os lados. A Melâmbula, observando tudo pela luneta de papel, ficou aliviada. Seria fácil se esconder ali dentro.

Seu Genuíno desceu da carroça e liberou o engate para poder emborcar a traseira e derrubar tudo dentro do depósito. Mal soltou a presilha, o peso fez a carroça virar sozinha, e todo o entulho se espalhou por cima de uma enorme esteira, levando tudo para o fundo do depósito. E lá se foi junto a Melâmbula, sem ninguém perceber nada, no meio da montanha de entulhos para reciclagem. Quando a esteira parou,  lá longe no fundo do prédio, sem ninguém por perto, a Melâmbula saltou e se escondeu atrás de uma pilha de latas de refrigerante amassadas. Sua ideia era ficar escondida até o final do expediente. À noite, todos iriam embora e ela poderia procurar um banheiro e um espelho para descobrir o que estava acontecendo, pois todo mundo se assustava tanto só de olhar para ela. Ficou ali, bem quietinha, ainda com muita fome mas com medo de ser descoberta, esperando o tempo passar.

Enquanto ela espera todos irem embora, vamos voltar para a casa da Tia Cândida e ver o que as meninas estão aprontando.

As irmãs gêmeas estavam em casa, a Florinda via televisão, a Florisbela terminava todos os seus temas. Antes de ir para a praia surfar, ela chamou a Florinda para reunir as roupas que iriam doar para a Melâmbula. A Florinda pegou os dois sacolões, e a Florisbela já foi para o galpão vasculhar o que tinha no baú. Era um grande baú de madeira, cheio de roupas antigas, fantasias, chapéus, casacos, sapatos de salto, botas, cintos, echarpes e marabu. Foi uma diversão. A Florisbela logo tinha se juntado a ela, e as duas esqueceram que estavam ali para separar roupas para doar. Ficaram brincando, vestiam as roupas, faziam poses de madame, e a tarde foi passando.

Demoraram tanto que a Tia Cândida chegou e também entrou na brincadeira. Elas faziam de conta que estavam desfilando, empurraram as mesas de jogos para o lado, e o meio do galpão virou uma passarela de desfile. O final da tarde estava chegando, e a Tia Cândida resolveu ajudar as meninas a escolherem de uma vez as roupas que iriam doar, antes que escurecesse e elas não pudessem mais sair. A Florisbela até esqueceu que tinha combinado surf com seus amigos. Então, finalmente, separaram um casacão, dois blusões, um saião rodado, um par de alpargatas, um chapelão e meias; colocaram tudo nas duas sacolas e foram pedir para a Keith emprestar o Thor para ajudar a encontrar a Melâmbula. A Keith disse que elas poderiam levar o Thor sem problemas, que ele iria adorar o passeio. Buscou o Thor e colocou a guia no cachorrinho, que já estava todo feliz, retorcendo os quadris e balançando a colinha.

Capítulo 7

A chegada de Tatan

A Tia Cândida pediu para a Florinda e a Florisbela não irem muito longe, pois poderia ficar muito tarde, já eram 17h e às 18h começaria a escurecer. Elas prometeram que voltariam no máximo em 45 minutos, caso não encontrassem a Melâmbula nesse tempo, voltariam para casa e continuariam procurando no dia seguinte. A Florisbela então deu a luva para o Thor cheirar e ele ficou ali, esfregando o nariz, fungando e balançando o rabo, deu mais uma boa cheirada na luva e começou a latir. Depois disso, colocou o focinho no chão e seguiu desatinado, arrastando a Florisbela pela coleira. Parecia que ele estava conseguindo achar o rastro da Melâmbula.

O Thor começou a latir. A Florinda olhou para  a esquina e deu um grito. A Florisbela quase não conseguia segurar o cachorrinho pela coleira!

– Olha quem esta chegando! Espera! É o Tatan!

Dobrando a esquina do condomínio, vinha um menino de boné com a aba virada para trás, uma mochilona e um skate pendurado nas costas, que acenava para elas! O Thor já estava todo agitado por que percebeu antes de todo mundo a presença do seu dono! Como na sexta-feira seria feriado, o Tatan estava chegando de Pelotas, um dia antes, para passar o final de semana. A Florinda estava eufórica! Ela é apaixonada pelo Tatan e mal consegue disfarçar. Tatan, enquanto dava uns agarros no Thor, foi logo perguntando:

– Oi, Florinda, oi, Florisbela! Como estão as ondas? Você foi surfar hoje à tarde, Florisbela?

A Florinda, antes de esperar a resposta da Florisbela, interrompeu a conversa e saiu explicando:

– Tatan, você chegou na hora certa. Ninguém foi surfar hoje. Estamos com um problema e precisamos de sua ajuda e tem que ser agora! Vamos lá! ?

Tatan respondeu:

– Nossa! É sério, o que houve? A Florisbela respondeu:

– Calma, Tatan, a Florinda tá exagerando. Sua ajuda seria muito bem-vinda, mas não é nada grave. Se você não tiver nada para fazer agora e quiser dar uma volta conosco pelo bairro, no caminho nós te explicamos, mas não é nada assim tão grave.

A Florinda, que até então não estava tão interessada na procura pela mulher de rua, aproveitou a oportunidade e fez um draminha, como forma de convencer o Tatan a acompanhá-las:

– Ai, Florisbela, claro que é grave. Tatan, temos que encontrar uma mulher de rua, o Thor vai nos ajudar a achar o rastro dela e nós vamos levar as roupas que estão nesta sacola para ela.

Capítulo 8

Perseguição no pátio da Usina de Reciclagem e a fuga

Melâmbula, a misteriosa mulher melancia – Capítulo 8 – Perseguição no pátio da Usina de Reciclagem e a fuga

Tatan adora aventuras. Prontificou-se a acompanhá-las na mesma hora.

– Florinda, claro que eu vou junto! Só vou largar a minha mochila em casa, dar um beijo na minha mãe, avisar que cheguei e já vamos, que logo vai escurecer e aí vai ser mais difícil achar alguém.

A Florinda dava pulos de alegria, e a Florisbela também gostou de saber que teriam a companhia do Tatan.

Tatan largou a mochila em casa, pegou umas bananas, o skate, deu um beijo na mãe explicando que iria junto com a Florinda e a Florisbela, e saiu de casa para encontrá-las.

– Vamos lá gurias, estou pronto. Por onde vamos?

A Florisbela explicou que elas não tinham nenhuma ideia de onde a mulher de rua poderia estar, mas que elas tinham encontrado as luvas no local onde ela tinha estado pela última vez, que era do lado do murinho da padaria, e que a esperança delas era o Thor encontrar o rastro dela farejando as luvas.

– Ótima ideia! Respondeu Tatan. O Thor é muito bom nisso.

– Olha só, trouxe umas bananas, vocês querem?

– Ihhh… Resmungou a Florisbela. Nem sabe que foi essa história de comer frutas pela rua que causou tudo isto. Conta pra ele, Florinda, conta!

A Florinda respondeu:

– Ah, Tatan, eu já aprendi! Não podemos jogar nem casca, nem sementes, nem coisa nenhuma pela rua. Tem que colocar num saquinho e depois no lixo orgânico. Eu já aprendi.

Os quatro continuaram caminhando pelo bairro; Tatan, Thor, a Florinda e a Florisbela. Rumavam na direção da padaria e a Florinda ia contando o que tinha acontecido no dia anterior, quando ela cuspiu as sementes de melancia e os gritos da mulher de rua.

Mas, enquanto isso, na usina de reciclagem, a Melâmbula continuava escondida e tentava ouvir o que os trabalhadores da usina conversavam, para saber quando poderia sair do seu esconderijo.

Seu Genuíno Carreto já tinha ido embora, de volta para Rio Grande, e os trabalhadores da usina começavam a se preparar para o final do expediente. O Romão Catão, o chefe da usina de reciclagem, mandou desligarem as máquinas, pois às 17h30min fechariam o depósito. A Melâmbula ouviu a ordem e ficou muito feliz, mas se deu conta de que se trancassem o depósito, ela ficaria presa lá dentro. Espiando do fundo, ela percebeu que Romão Catão guardou um molho de chaves num armarinho cheio de chaveiros. Ali deveria ter uma chave reserva para ela poder sair. Mais tranquila, ficou bem quietinha esperando todos saírem.

Depois de passarem pela padaria, o Thor, que já tinha cheirado as luvas, após ter cheirado bastante também o local onde tinha estado a Melâmbula, parecia ter encontrado seu rastro; seguia farejando o chão e puxando com força a coleira. Algumas vezes levantava o focinho, latia, para logo em seguida sair decidido arrastando as longas orelhas. Estavam indo certinho na direção da usina de reciclagem, onde a Melâmbula estava escondida. A Florinda já estava cansada de carregar as sacolas com as roupas, e o Tatan pegou as sacolas para ajudar, enquanto a Florisbela tentava segurar o Thor, que seguia puxando com força a guia da coleira. Quanto mais se aproximavam da usina de reciclagem, mais forte o Thor puxava a guia, e começava a latir cada vez mais alto. A Florisbela já estava ficando cansada, assim como a Florinda. Tatan sugeriu pararem por um minuto para retomarem o fôlego. Os três juntos contavam: 1, 2, 3, 4….Até 60. Sessenta segundos equivalem a um minuto. Depois disso retomaram a caminhada. O Thor continuava a puxar a guia farejando e começou a latir.  Tatan comentou que eles deviam estar perto de encontrar a moradora de rua.

Dentro do depósito da usina de reciclagem, todos os funcionários já tinham ido embora. A Melâmbula, bem silenciosamente, com medo que ainda houvesse algum funcionário do lado de fora que pudesse ouvir sua movimentação, foi até o armarinho procurar pela chave reserva. Dentro do armarinho, todas as chaves estavam identificadas e bem organizadas. Rapidamente ela encontrou um chaveiro onde estava escrito numa etiqueta: Depósito. Foi até á porta do depósito e testou a chave, dando meia volta no miolo da fechadura, suavemente. A chave estava certa! Estava ansiosa para sair, tudo parecia silencioso do lado de fora. Mal ia enconstando a orelha numa fresta para tentar garantir-se de que não havia ninguém por ali mesmo, ela começou a ouvir latidos.

De quem seriam esses latidos? Adivinhem!

A Florinda, a Florisbela, o Tatan e o Thor chegaram em frente ao portão da usina de reciclagem. O Thor, latindo sem parar, parecia querer pular por cima da cerca.

Entre o prédio do depósito e a cerca que protege o terreno da usina, há um estacionamento onde as carroças e os caminhões descarregam.

A Melâmbula não conseguia mais esperar. Abriu a porta do depósito e foi para o pátio. O Thor foi o primeiro a perceber, fez um movimento tão brusco para saltar a cerca que a coleira escapou da mão da Florisbela. Sentindo o cheiro da Melâmbula, ele invadiu o terreno, pulando por cima da cerca. O Tatan também pulou, para ir atrás dele. Enquanto isso, a Florinda tentava soltar a tramela para abrir o portão.

Assustada com a aproximação do Thor, que vinha latindo na direção dela, a Melâmbula deu um grito, e de sua cabeleira se ergueram tranças grossas, numa cena horripilante, ela parecia uma medusa. As tranças grossas eram formadas por galhos e ramas que balançavam frutos de melancia em volta e sobre a cabeça da mulher. Ela parecia um monstro. O Tatan, que vinha logo atrás do Thor, tentando pegar sua coleira, quase não acreditava no que estava vendo. A Florinda e a Florisbela, que já tinham conseguido abrir o portão e também entraram no pátio da usina de reciclagem, largaram as duas sacolas de roupas no chão e começaram a gritar, chamando o Thor e o Tatan:

– Tatan, Tatan, foge, ela é uma mulher monstro! Vem, Thor!  Vamos, vamos…

A mulher melancia começou a fazer aquele barulho estranho com a boca, nhac, nhac e as melancias começaram a balançar mais rapidamente sobre a cabeça dela. Então ela viu as melancias e, sem nem parar para pensar, começou a lança-las em direção ao Thor e ao Tatan, com muita força. Uma melancia estourou do lado do Thor, que, assustado, correu para os braços do Tatan, que por sua vez, saiu correndo para o portão onde estavam a Florinda e a Florisbela. Sem olhar para trás, os quatro saíram correndo, desesperados, enquanto a Melâmbula continuava tentando acertá-los, atirando melancias sobre eles. Ainda atrapalhada com todo aquele peso na cabeça e sem muita pontaria, assim que perdeu as crianças de vista a Melâmbula desistiu de persegui-las e encontrou atiradas no chão as suas luvas e as duas sacolas de roupas deixadas pelas meninas.

Logo, sozinha novamente e um pouco mais calma, ela  percebeu que as ramas e galhos em sua cabeça, que antes estavam eriçadas, desceram como se fossem tranças escorrendo pelos seus ombros até a cintura, e as melancias que não haviam sido lançadas  se esparramaram pelo chão. Um pouco transtornada, mas muito preocupada para que ninguém percebesse que ela havia se transformado naquele “monstro de melancia”, revirou as sacolas procurando alguma coisa que pudesse usar para se disfarçar.

Dentro da primeira sacola encontrou uma saia, um casacão e dois blusões ; na outra, ela achou um par de alpargatas e um chapelão. Perfeito! Com o chapelão ela poderia esconder a cabeça e com o casacão ela esconderia as tranças. Ela também vestiu a saia e calçou as alpargatas, e ainda usou as duas sacolas para esconder as melancias que sobraram. Tentou voltar para dentro do depósito, mas a porta havia batido e ela não conseguiu abri-la sem a chave, que tinha ficado no lado de dentro. Morrendo de fome, com todas aquelas melancias ao seu redor, sentou-se e começou a comer melancias.

As crianças não pararam de correr até chegarem em casa. Entraram no condomínio e foram direto para a casinha na árvore procurar pela luneta. Pegaram a luneta e subiram no mirante para, lá de cima, tentarem avistar a Melâmbula. Estavam com medo que a mulher melancia pudesse tê-los seguido até o condomínio. Mas já estava escuro e não dava pra ver nada. Então voltaram para a  casinha na árvore para decidir como contariam aquela estória para a Keith e para  a tia Cândida. Uma estória que os adultos dificilmente conseguiriam acreditar.

No dia seguinte, a Melâmbula caminhava pelas ruas do Cassino, tranquilamente, com seu disfarce, sem que ninguém pudesse perceber o seu problema. Sobre a cabeça o chapelão e o casaco, pedindo comida e dormindo nas calçadas. Como foi previsto pelas crianças, até hoje, nenhum adulto acredita que aquela mulher vista, naquele dia, carregando duas sacolas e que anda sempre com os cabelos escondidos, é na verdade a Misteriosa Mulher Melancia.

Nas próximas estórias você vai conhecer aventuras incríveis da Turma da Florinda, da Florisbela e do Tatan, fugindo da Melâmbula ou tentando desvendar os seus mistérios.

Até lá.

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